segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

UMA INTRODUÇÃO AO ASSUNTO DAS IMPRESSÕES DIGITAIS – PARTE 01
(TÉCNICAS DE REVELAÇÃO)

INTRODUÇÃO
A ciência botânica prova que as folhas de uma mesma árvore nunca são idênticas. Duas zebras também nunca terão um padrão de listras iguais. Da mesma forma, é princípio firmado na Datiloscopia (sistema de identificação por meio das impressões digitais) que não existirem duas impressões papilares idênticas.
A datiloscopia é ainda, a ciência que se propõe a identificar as pessoas fisicamente consideradas, por meio da impressão digital ou produção física dos desenhos formados pelas cristas papilares das extremidades digitais.
Uma impressão digital nada mais é do que um depósito de materiais orgânicos deixado em uma superfície no instante em que houve o contato dos dedos com a superfície de um objeto. Quanto maior a oleosidade da pele ou o suor das mãos, mais facilmente a impressão digital poderá ser revelada.
De modo geral, podemos definir IMPRESSÕES DIGITAIS LATENTES como sendo aquelas impressões que foram deixadas no local de crime. Estas impressões podem ou não ser visíveis. As visíveis podem ser impressões contaminadas com sangue, por exemplo. Mas a maior parte das impressões latentes é mesmo invisível. Ao tratamento para torná-las visíveis é dado o nome de REVELAÇÃO DE LATENTES.


TÉCNICAS DE REVELAÇÃO
O objetivo de revelar uma impressão latente é visualizar o desenho das CRISTAS PAPILARES, que são as linhas do desenho das impressões digitais. Os detalhes dos desenhos destas linhas é que irão permitir a classificação da impressão e um posterior confronto da impressão latente com as impressões digitais dos suspeitos.
Antes de se proceder à revelação de uma impressão latente, é necessário selecionar dentre os vários processos físicos e químicos com os quais as secreções da pele, presentes naquela latente, irão reagir. A seleção das ferramentas corretas para esta revelação é um dos principais componentes do trabalho de um técnico em impressões digitais. Mas para esta correta seleção é necessário ter algum conhecimento da constituição das impressões digitais.
Fatores como a idade, exposição ambiente, tipo de superfície sobre a qual encontra-se a latente apresentam um profundo impacto sobre a escolha das ferramentas corretas. É importante ter em mente que água e álcoois são os primeiros componentes que um latente perde. É preciso levar em consideração, ainda o fato de que certas superfícies podem absorver ou diluir os componente oleosos.
Em alguns casos, pode se fazer necessário o emprego de um ou mais métodos de revelação, em seqüência. Contudo, o técnico em impressões digitais deve ter em mente que certos métodos podem ser destrutivos. Por causa disto, nos casos mais complexos envolvendo a revelação de impressões latentes, é necessário que haja uma ampla compreensão por parte do técnico sobre a seqüência aceita para o uso de produtos reveladores destas impressões.
Veja adiante algumas das principais técnicas para emprego em atividades de revelação de impressões digitais e latentes.
Técnica do pincel e pó:
A técnica de revelação com pincel e pó é a mais comumente usada na revelação de impressões latentes, e será suficiente para atender à maior parte das demandas apresentadas em um local de crime. E isto acontece porque os pós costumam ser muito úteis em impressões novas (com menos de 48 horas), uma vez que nestes casos geralmente ainda há depósitos consideráveis de água e gorduras nestas impressões. Deve-se sempre usar uma cor de pó que contraste com a cor da superfície trabalhada e também um pincel macio o suficiente para não alterar o desenho das cristas papilares no instante da revelação.
Como já sabemos, as impressões digitais das extremidades dos dedos são gordurosas, e este fato lhes confere certa aderência. Os pós empregados nos processos de revelação, aderem a estas impressões gordurosas. Contudo, é imperioso o emprego de materiais de reconhecida qualidade (pós e pincéis), sob pena de se obter uma revelação de baixa qualidade, o que poderia comprometer um posterior trabalho de comparação.
Esta técnica implica, entre outras coisas, em identificar a cor ideal do pó a ser usado (que é especialmente fabricado para esta finalidade), e fazendo uso de um pincel macio (também concebido para esta atividade específica) aplicar o pó sobre a superfície onde potencialmente pode haver impressões latentes.
A aplicação do pincel sobre o pó deverá acompanhar o contorno do desenho das cristas papilares, evitando assim que as mesmas sejam danificadas durante sua aplicação. Ao fim da aplicação, havendo excesso de pó sobre esta latente - o que dificultará a visualização do desenho das cristas papilares - um pincel extra macio (de penas de marabou, por exemplo) deverá ser usado para remoção do excesso de pó aplicado.
Para um investigador comum, dominar a técnica do pincel e pó já será suficiente para se obter resultados na maior parte dos casos em que for confrontado. Superfícies lisas permitem um trabalho mais simplificado e com melhores resultados para a revelação das latentes. Entre estas superfícies destacamos, vidro, metal, madeira tratada ou envernizada, plásticos e peças de cerâmicas entre outras.
Certas superfícies porosas, também são muito fáceis de serem trabalhadas. E assim como as superfícies lisas, a técnica do pincel e pó serão suficientes quando se tratarem de impressões novas. Entre estas superfícies destacamos papel, cartolina, papelão e madeira sem acabamento.
Algumas variações das técnicas de pincel e pó consistem nos pós fluorescentes, utilizados com auxilio de uma fonte de luz azul forense, muito útil para revelação de impressões latentes em superfícies multi coloridas. Destaque também para os pincéis e pós magnéticos, que consistem em um conjunto de ferramentas (pós e pincéis) em que a cerda do pincel é constituída por um pó especial (composto por limalha de ferro e grafite) que é atraído por uma base imantada do aplicador (também chamado de pincel magnético).
Pincel magnético em uso

Iodo:
Vapores de iodo reagem com óleos e depósitos de gorduras produzindo, temporariamente, um produto de reação com um aspecto amarelo amarronzado. Especialmente útil no caso de impressões recentes sobre superfícies metálicas e porosas. Outras superfícies também podem comportar a revelação com iodo.
Kit para vaporização com Iodo.

O iodo deve ser empregado antes de qualquer outra técnica que se queira utilizar. O destaque com as revelações através do vapor de iodo, consiste no fato de que esta revelação é temporária. Logo, as latentes reveladas com estas substâncias devem ser fotografadas imediatamente, tendo em vista que a reação dura pouco tempo (geralmente cerca de 1 minuto, em superfícies porosas como o papel e cartolina).
Logo, a aplicação de vapor de iodo pode ser muito útil para revelar impressões digitais sem que se deixe vestígio desta atividade sobre a superfície analisada. Basta que o investigador tenha alguns breves minutinhos junto á superfície alvo da revelação e ele poderá aplicar o vapor de iodo, fotografar a reação, e aguardar o desaparecimento da reação. Toda esta seqüência de fatos provavelmente consumirá menos do que cinco breves minutos (dependendo das características da superfície e da impressão latente trabalhada).
DFO, Ninidrina e Nitrato de Prata:
DFO (1,8 diazofluoreno-9-um) é uma substância com alta capacidade de revelação (mais do que duas vezes comparado à Ninidrina). Muito aplicada em superfícies porosas (como papel e cartolina), sua reação pode ser acelerada através de aplicação de calor (requer o emprego de câmara de vaporização). Se for emprega em processos que incluam a Ninidrina, o DFO deve ser utilizado antes desta. Muito útil também para revelar manchas de sangue, sua aplicação demanda a utilização de uma fonte de luz do tipo azul forense.
A Ninidrina reage com aminoácidos para produzir um produto de reação com coloração roxa. Indicado para superfícies porosas, o tempo de revelação médio é de 10 dias, podendo ser acelerado com aplicação de calor e umidade. Se utilizada em conjunto com outras substâncias químicas, deve ser empregada depois do iodo e antes do Nitrato de Prata. Muito utilizada pelas polícias técnico científicas, seu resultado é inócuo em artigos que tiverem sido expostos à água.
O Nitrato de Prata reage com cloretos de secreções da pele, com um resultado da revelação de cor acinzentada quando exposto à luz. Após a revelação a impressão deve ser fotografa imediatamente, pois muito freqüentemente a reação acaba preenchendo a região vazia entre as cristas papilares, e assim forma-se um borrão. Indicada para superfícies porosas, plásticos e madeira não envernizada. Se utilizada com outros reagentes deve ser empregada após aplicação do iodo e da Ninidrina. Seu resultado também é inócuo em artigos que tiverem sido expostos à água.
Cianoacrilato:
Esta é uma das substâncias que compõem as super colas (super bonder, three bonder e etc). O vapor de Cianoacrilato reage com águas e outros possíveis componentes das impressões digitais formando um depósito duro e esbranquiçado sobre as impressões reveladas. Este depósito é rígido, e por este motivo protege as impressões reveladas.
Muito indicado para superfícies como isopor, sacolas plásticas e interior de veículos. O pó deve ser aplicado sobre as impressões reveladas ou então tratadas com alguma espécie de corante para realçá-la.
Requer a aplicação de calor (câmara de vaporização). No caso de revelação de impressões veículos, o próprio veículo pode funcionar como uma câmara de vaporização, bastando apenas deixá-lo exposto sob o sol intenso com as janelas e portas fechadas. Todo o interior do veículo (ou da câmara de vaporização) receberá o depósito rígido e esbranquiçado ao fim do processo de revelação.
Envelope de Cianoacrilato para revelação de latentes no interior de veículos

Outras técnicas:
Outras técnicas permitem ao perito revelar impressões mais antigas e cujos componentes orgânicos já não mais reagiriam com o pó ou os químicos mais comuns. Estas substâncias irão reagir com outros depósitos de materiais orgânicos que estarão presentes mesmo nas impressões digitais mais antigas. De qualquer maneira tais procedimentos requerem uma boa dose de experiência em atividades de revelação de impressões digitais.
Os recursos tecnológicos atuais permitem revelação de impressões digitais inclusive em superfícies adesivas (EZFLO e LPDE), como fitas isolantes ou durex, e superfícies úmidas (reagente de pequenas partículas), como a lataria molhada de um carro.
Destaque também para o Revelador Físico, para uso na revelação de impressões sobre superfícies porosas, que costuma apresentar bons resultados mesmo em superfícies que tenham sido expostas à água, ao contrário da Ninidrina e do Nitrato de Prata que são inócuos nestes casos. Ainda nestes casos, lembre-se de que algumas destas ferramentas de laboratórios podem se fazer necessário o emprego de câmaras de vaporização (como no caso do Cianoacrilato e da Ninidrina), fontes de luzes especiais (DFO) e aplicadores específicos (pós magnéticos). Relatos de impressões latentes reveladas com sucesso a partir de peças resgatadas do Titatic, ou sobre a pele humana, ou ainda impressões com mais de 50 anos também nos chegam com frequência. Contudo, ainda não tivemos acesso seguro à descrição das técnicas e materiais utilizados para tal.
Resumo dos principais materiais a serem aplicados X tipo de superfícies:
SUPERFÍCIE MÉTODO
01 Lisa, não porosa Pós, iodo, Cianoacrilato reagente de pequenas partículas
02 Irregular, não porosa Reagente de pequenas partículas, Cianoacrilato
03 Papel e papelão Iodo, Ninidrina, DFO, Nitrato de Prata, pós, Revelador Físico
04 Embalagens plásticas Iodo, reagente de pequenas partículas, Cianoacrilato, pós
05 PVC, borracha e couro Iodo, reagente de pequenas partículas, Cianoacrilato, pós
06 Metais não tratados Reagente de pequenas partículas, Cianoacrilato,
07 Superfícies s/ acabamento Ninidrina, Nitrato de Prata, pós, Revelador Físico
08 Superfícies enceradas Pós (não magnéticos), Cianoacrilato
09 Superfícies adesivas Substâncias a base de EZFLO e LPDE
Descrições das superfícies citadas:
1) Lisa, não porosa: vidros, plásticos rígidos, superfícies envernizadas ou pintadas.
2) Irregular, não porosa: superfícies irregulares como moldagens de plásticos granulados.
3) Papel e papelão: papel, cartolina, papelão, gesso não encerados ou plastificados.
4) Embalagens plásticas:plietileno, acetato de celulose, papel laminado.
5) PVC, borracha e couro: couro sintético e películas adesivas.
6) Metais não tratados: superfícies metálicas brutas, não laqueadas ou pintadas.
7) Superfícies s/ acabamento: superfícies de madeiras sem acabamento, não pintadas ou tratadas.
8) Superfícies enceradas: artigos feitos de cera, papel, papelão e madeiras enceradas.
9) Superfícies adesivas: superfícies adesivas que não se dissolvem em água.

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